BRASIL COLONIAL
Para contar a história da região
na qual Santo André está inserida, temos que retomar, de maneira sucinta, parte
da história do Brasil Colonial. Nos primeiros anos dessa história os
portugueses tinham grande preocupação em defender as costas brasileiras de
possíveis invasões de franceses e holandeses, pois estes dois países não
compartilharam da divisão expressa pelo Tratado de Tordesilhas que dividiu o
Novo Mundo, a terra a ser descoberta, entre portugueses e espanhóis.
No início do século 16 os países
que tivessem terras onde pudessem explorar as riquezas minerais, em especial
ouro e prata, estavam à frente dos demais pois essas eram as moedas correntes,
indicadoras de riqueza. Explica-se por aí o interesse pelas terras dessa vasta
colônia portuguesa. Devido a vários ataques às suas terras, a partir de 1530,
Portugal intensificou a colonização das costas brasileiras. Nesse contexto é
enviado para cá, por ordem de Dom João III, rei de Portugal, Martim Afonso de
Souza com a incumbência de fundar vilas para fortificar o litoral.
Aliada a essa história está a
figura de João Ramalho, português que representava, nesse momento, uma porta de
entrada para o contato com os índios e para a colonização, pois ele conhecia
algumas tribos e conseguia se comunicar com elas.
Nesse período, a busca de metais
impulsionou as entradas para o interior e a vila foi se desenvolvendo. Os
jesuítas, instalados em São Vicente, tinham interesse em transferir seu colégio
para próximo dessa região, nos campos de Piratininga, pois havia uma grande
evasão de pessoas do litoral para o interior. Tal fato ocorreu a 25 de janeiro
de 1554, com a criação da Aldeia de São Paulo de Piratininga.
Dificuldades de subsistência e de
proteção fizeram com que a vila de Santo André fosse transferida para São Paulo
de Piratininga em 1560, através de proposta do Padre Manoel da Nóbrega ao
Governador Geral Mem de Sá.
A partir de então, Santo André
deixou de existir enquanto unidade administrativa, passando a ser um bairro de
São Paulo. A região passou por um período de estagnação, tornando-se local de
passagem entre o Porto de Santos, a capital e o interior. No entanto, já em
1561, grande parte das terras foi concedida como sesmaria a Amador de Medeiros,
ouvidor da Capitania de São Vicente. Boa parte dessa sesmaria foi repassada, em
1637, à Ordem de São Bento, formando-se ali a Fazenda São Bernardo, área
atualmente ocupada em grande parte pelo município de São Bernardo do Campo.
Outra área importante de domínio dos beneditinos era a Fazenda São Caetano,
doada à Ordem em 1631 pelo Capitão Duarte Machado e sua esposa Joana Sobrinha.
As outras terras eram menores e foram passando por vários donos até o início do
século 20, quando foram loteadas.
URBANIZAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO
Nesse período a atividade
econômica ficou restrita à subsistência e à locação de pastagens para as
tropas. As duas fazendas dos beneditinos São Bernardo e São Caetano tinham uma
atividade mais regular: a primeira produzia gêneros alimentícios e na segunda fabricavam-se
tijolos e artefatos de cerâmica. Essas fazendas ficaram sob a propriedade dos
beneditinos até 1870, quando foram compradas pelo Estado para a criação de
colônias de imigrante. Antes disso, porém, ao redor da fazenda São Bernardo foi
se criando um pequeno núcleo urbano, que mais tarde iria garantir a criação do
município de São Bernardo.
Outro fator importante no
contexto de modernização da região em meados do século XIX foi a instalação da
ferrovia nas proximidades do Rio Tamanduateí. Esse empreendimento visava a
melhoria do transporte de produtos agrícolas do interior para o Porto de
Santos, em especial o café que começava a ser produzido em larga escala na
Província de São Paulo. Tal situação começou a atrair indústrias que se
aproveitavam das facilidades de transporte, da disponibilidade de áreas
próximas à linha férrea e ao rio, além dos incentivos fiscais apresentados pelo
município.
CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO
Em 1889, quando foi criado o
município de São Bernardo, este nasceu sob a marca da industrialização,
utilizando, predominantemente, a mão de obra de imigrantes. Este município
abrangia toda a região do Grande ABC.
As indústrias que se instalavam
na nova cidade eram em geral ligadas à produção química, têxtil e de móveis.
Além disso, foram surgindo pequenos negócios como carpintarias, funilarias,
sapatarias, barbearias, pequenas pensões e restaurantes, que foram dando uma
feição mais urbana à região. Nesse contexto ressurge o termo Santo André,
nomeando o distrito criado em 1910 e que compreendia áreas próximas à Estação.
A expansão industrial remonta ao
final do século 19 e caracterizou-se por muito tempo por um misto de produção
industrial e artesanal. As primeiras indústrias foram a Tecelagem Silva Seabra
& Cia, conhecida também como Fábrica Ypiranguinha por estar sediada na
região conhecida por esse nome. Foi inaugurada em 1885 e produzia brim de
algodão. Esta indústria operou até a década de 1970. Outra tecelagem instalada
ainda no século 19 foi a Bergman, Kowarick & Cia que iniciou suas
atividades em 1889 e fabricava casemiras. A primeira fábrica de móveis foi a
Companhia Streiff de São Bernardo, inaugurada em 1897 e produzia,
principalmente, cadeiras.
Além disso, outras tecelagens
menores foram se instalando no início do século 20, como a Fiação e Tecelagem
Santo André (1908), a Fábrica de Tecidos de Algodão (1920), a Fábrica de
Tecidos São Geraldo (1926), o Jutifício Maria Luiza Ltda (1933), entre outras.
Essas empresas eram, em sua maioria, pequenos empreendimentos gerenciados por
seu proprietário. Todas já desapareceram, principalmente por não conseguirem se
impor às inovações tecnológicas, após a década de 1950.
Outras, porém, fundadas nesse
mesmo período modernizaram-se, como a Companhia Chimica Rhodia S/A e a
Companhia Brasileira de Seda Rhodiaseta.
O distrito de Santo André
abrigava na década de 1930 várias indústrias importantes, possuía a Estação de
São Bernardo por onde era transportada grande parte dos produtos aqui
produzidos e tinha entre seus moradores vários políticos influentes. Tal
situação levou à transferência da sede do município de São Bernardo para Santo
André, em 1939. Toda a região do Grande ABC, composta por vários distritos,
passou, então, a ser denominada pelo nome Santo André.
No entanto, já na década de 1940
iniciaram-se vários movimentos emancipacionistas e os distritos foram
tornando-se municípios. Em 1945 foi a vez de São Bernardo do Campo, em 1949 São
Caetano do Sul e em 1953 Mauá e Ribeirão Pires. A partir de então Santo André
passou a ter uma área de 174,38 quilômetros quadrados, contando com os
seguintes distritos: Sede, Capuava e Paranapiacaba.
Na década de 1950, além dessas
mudanças, outras puderam ser sentidas no que se refere à tipologia das
indústrias da região. Com os investimentos estatais e o capital estrangeiro
ocorreu um crescimento no setor automobilístico, mecânico, metalúrgico e de
material elétrico. Santo André passou a abrigar várias indústrias de
autopeças.
A indústria foi, então,
delineando um outro perfil. A mão de obra tornou-se mais especializada e as
máquinas mais produtivas. Neste momento a mão de obra deixou de ser
determinante para o aumento da produção.
Na década de 1970 houve um
momento de expansão e concentração da indústria na Grande São Paulo. Foi o
período denominado de "milagre econômico". Na década seguinte o ritmo
de crescimento sofreu um decréscimo, culminando com a recessão dos anos 80. Nos
anos 90 a produção industrial continuou desacelerada, com os incentivos fiscais
voltados para outras áreas do estado de São Paulo, além das dificuldades de
transporte e o custo de mão de obra. O ABC e, em especial Santo André, perdeu
várias indústrias.
Hoje em dia, há um grande esforço
do setor público e da sociedade para a manutenção das indústrias existentes.
Além disso, tem-se observado um aumento de atividades nos setores de serviços e
no comércio. O desafio do início deste século 21 está relacionado à criação de
novas alternativas para a cidade que vai se transformando, garantindo melhores
condições de vida a seus moradores.
Notas:
.: Tratado de Tordesilhas - Foi
celebrado em 1494 em Tordesilhas, município da província de Valladolid, na
Espanha. Era um acordo entre os Reis Católicos da Espanha Fernando e Isabel e o
rei de Portugal, D. João II, que repartia entre os dois reinos a posse das
terras descobertas e a descobrir. Delimitava as esferas de ação de Portugal e
Espanha nos descobrimentos marítimos, traçando uma linha imaginária a 370
léguas das Ilhas de Cabo Verde, no Oceano Atlântico. As terras a leste
pertenceriam a Portugal e à oeste seriam da Espanha. Esse tratado vigorou até
1750 quando foi revogado.
.: Martim Afonso de Souza - Nasceu em Vila Viçosa, Portugal em 1500 e morreu em Lisboa a 21 de julho de
1564. Era filho do fidalgo Lopo de Sousa e de D. Brites de Albuquerque. Foi
militar e administrador colonial da Coroa Portuguesa. Foi nomeado pelo rei de
Portugal, D. João III, capitão-mor da armada contra os franceses na costa do
Brasil. A armada partiu de Lisboa no dia 03 de dezembro de 1530 e em 1531
percorreu toda a costa brasileira, aportando no litoral paulista. Em 22 de
janeiro de 1532 criou a Vila de São Vicente primeira vila do Brasil. Aqui no
Brasil, Martim Afonso tinha plenos poderes, inclusive sobre a vida e a morte
das pessoas, além de distribuir terras em sesmarias, nomear oficiais de
justiça, etc. Retornou a Portugal em 1533, recebendo o título de capitão-mor do
Mar das Índias e em 1534 foi nomeado donatário da Capitania de São Vicente no
Brasil e governador da Índia de 1541 a 1545. Está sepultado no Convento de São
Francisco em Lisboa.
.: João Ramalho - Era português,
filho de João Velho Maldonado e de Catarina Afonso de Balbode, nasceu
aproximadamente em 1470 em Vouzela , distrito de Viseu, Portugal. Era casado
com Catarina Fernandes das Vacas. Foi degredado para o Brasil por delitos
cometidos enquanto era escudeiro da rainha. Não se sabe exatamente o ano em que
João Ramalho foi deixado na costa brasileira - supõe-se que tenha sido entre
1510 e 1530. No Brasil uniu-se à índia Bartira, posteriormente batizada como
Isabel Dias. Ela era filha do Cacique Tibiriçá, da tribo Guaianazes.
Após a fundação da vila de Santo
André da Borda do Campo, exerceu vários cargos nesta vila como: guarda-mor,
capitão, alcaide e vereador. Faleceu em 1580, sendo provavelmente sepultado na
Igreja do Colégio de São Paulo de Piratininga.
.: Vila - Para se fundar uma vila
e doar suas terras era necessário possuir uma carta de poderes do Rei de
Portugal. A vila possuía um ordenamento jurídico administrativo semelhante às
cidades atuais. Tinha Câmara Municipal com vereadores, almotacéis vereadores
que serviram a Câmara no ano anterior juiz, procurador, tesoureiro, escrivão,
alcaide-mor - espécie de prefeito, além do guarda-mor - que cuidava da
segurança da vila. Possuíam também um Pelourinho.
.: Jesuítas - Ordem religiosa
fundada em 1539 por Ignácio de Loyola. Tratava-se de um grupo de
características militares de combate à Reforma. Nesse mesmo ano foi reconhecida
como uma ordem católica romana e em 1540 foi aprovada pelo Papa Paulo III. Os
jesuítas chegaram ao Brasil Bahia em 1549 e tinham como função primordial
catequisar os índios, ou seja, ensinar a religião católica e as normas de
conduta moral e social dos portugueses. Além disso, fundaram colégios, abriram
estradas para o interior do país, etc. Entre 1504 e 1604 estiveram no Brasil
174 padres, entre eles: Manuel da Nóbrega, José de Anchieta, Leonardo Nunes e
Antônio Vieira. Foram expulsos em 1759 de Portugal e suas colônias, por
interferência do Marquês de Pombal. Em 1773 a Companhia foi extinta pelo Papa
Clemente XIV. Em 1814 a ordem foi formalmente restaurada pelo Papa Pio VII.
.: Capitania - Foram as primeiras
divisões administrativas do Brasil, implantadas por Dom. João II entre os anos
de 1532 e 1536. O sistema de capitanias já era usado por Portugal em Açores,
Madeira e Cabo Verde, onde tinha dado certo. As terras eram doadas a donatários
através da Carta de Doação que estipulava a área e do Foral que apresentava os
direitos e deveres dos donatários. O intuito dessa empreitada era colonizar a
colônia com o mínimo de recursos da Coroa Portuguesa. O Brasil foi dividido em
quinze capitanias e a maioria delas não prosperaram. As capitanias que tiveram
sucesso foram a de São Vicente e a de Pernambuco, onde houve acordos com os
índios residentes naquele lugar. Nas demais Maranhão, Maranhão (2.º quinhão),
Ceará, Rio Grande, Itamaracá, Bahia, Ilhéus, Porto Seguro, Espírito Santo, São
Tomé, Santo Amaro e Santana os portugueses estavam cercados por indígenas e as
casas e canaviais eram destruídos constantemente. Tal sistema foi sendo
suplantado a partir de 1549 pelo sistema de Governo Geral, onde as capitanias
inexploradas foram retomadas e o governador-geral, com sua sede em Salvador,
passou a ser a referência política da Colônia.
.: Ordem de São Bento - Essa
ordem foi criada por volta de 529 d.c. por São Bento, nas proximidades de Roma.
A concepção dessa ordem era de que o mosteiro deveria ser uma instituição
autônoma financeira e administrativamente, sendo os monges soldados de Cristo,
tendo por chefe o abade. Na região do ABC, os beneditinos tiveram influência
desde o século 17, quando receberam por doação terras que formariam duas
fazendas: São Bernardo e São Caetano. No final do século 19 as ordens
religiosas perderam seu poder, com a separação do Estado e da Igreja. As terras
e propriedades dessas ordens foram vendidas ao Estado ou confiscadas e essas
ordens religiosas ficaram restritas a seus mosteiros.
.: Tropas - As tropas de mulas
surgiram como meio de transporte a partir da primeira metade do século 18. Era
uma resposta à ampliação do movimento comercial entre diversos pontos do Brasil
e, em especial, com Minas Gerais, onde a mineração de ouro movia a economia
daquele período. Foram abertas várias estradas ligando diversas localidades
como, por exemplo, Sorocaba São Paulo e Viamão no Rio Grande do Sul, onde se
criavam mulas, gado e cavalos. Por essas estradas eram trazidos todos os tipos
de produtos: alimentos, ferramentas, tecidos, etc. O tropeiro passou a ser uma
figura importante na integração espacial e no escoamento da produção de
diferentes e distantes lugares. Entre o Porto de Santos e São Paulo, havia uma
rota que passava pela Serra do Mar através da Calçada de Lorena, inaugurada em
1792 e seguia por vários caminhos dentro da região que hoje compreende o ABC:
Caminho do Pilar, do Oratório, do Vergueiro, entre outros. Com isso, a região
que servia de local de pastagem e pouso para os tropeiros foi sendo povoada,
permitindo a posterior criação de freguesias e vilas.
.: Colônia de imigrantes - Essas colônias foram implantadas no ABC, pelo Governo Imperial, a partir de 1877, nas antigas fazendas dos beneditinos. O intuito era de que ali se plantassem produtos agrícolas de subsistência, em apoio às grandes fazendas produtoras de café. As terras das colônias foram divididas em linhas e estas em lotes que eram entregues aos imigrantes italianos que deveriam cultivar produtos agrícolas. Com a renda gerada, poderiam abater suas dívidas com o Governo, tornando-se proprietários das terras. No entanto, a realidade era diferente. O descaso, as más condições de vida e a inaptidão das terras para o cultivo fizeram com que muitos imigrantes abandonassem seus lotes e buscassem no núcleo urbano outro tipo de atividade que lhes garantissem o sustento. Com isso, esse sistema de uso das terras foi abandonado pelo governo, que passou a estimular ainda mais as grandes propriedades que queriam o imigrante apenas como mão-de-obra barata e em larga escala, e não mais como proprietário de um lote de terra.
web.santoandre.sp.gov.br/portal/servicos/1001/historia-de-santo-andre