A AFORTUNADA
DE DEUS
“...ainda embrião, teus olhos
me viram e tudo estava escrito no teu livro, meus dias estavam marcados antes
que chegasse o primeiro...” (Salmo 138,16).
É impossível não se encantar com
a trajetória de vida de Santa Bakhita. Tudo em sua vida é manifestação divina,
é o próprio Deus dirigindo seus passos até mesmo nos cruéis anos de escravidão.
Bakhita, um pouco anjo, um pouco
criança, grande mulher, que foi elevada à honra dos altares pelo caminho da
obediência e da simplicidade.
A ESCRAVIDÃO
Bakhita nasceu no Sudão, região
de Dafur na África, no ano de 1869 e através de suas poucas informações sabemos
que sua aldeia natal é Olgossa, cuja pronúncia é “algoz”, que em árabe
significa “Dunas de Areia”.
Não devemos nos esquecer de que,
apesar de possuírem terras, gado, etc., viviam numa aldeia onde as cabanas eram
de barro com telhado de palha. Todos nas aldeias estavam sujeitos ao grande
perigo que eram os bandos negreiros que raptavam homens, mulheres e crianças
para negociar no mercado de escravos.
No ano de 1874, sua irmã mais
velha foi raptada. A dor dilacerou o coração daquela família tão unida e feliz.
Bakhita não foi o nome que
recebera dos pais quando nasceu. No ano de 1876, com mais ou menos 7 anos de
idade, foi raptada e arrancada do seio de sua família. A pequena menina tomada
de pavor, foi levada brutalmente por dois árabes e foram eles que impuseram o
nome de Bakhita, que significa “afortunada”.
A pequena escrava, depois de um
mês de prisão, foi vendida a um mercador de escravos. Na ânsia de voltar para
casa, Bakhita se arma de coragem e tenta fugir. Porém, foi capturada por um
pastor e revendida a outro árabe, homem feroz e cruel, que, por sua vez,
revendeu-a a outro mercador de escravos.
Novamente ela é vendida a um
general turco, cuja esposa era mulher terrivelmente má. Desejou marcar suas
escravas e Bakhita estava entre elas. Chamou então uma tatuadora que, com uma
navalha, ia marcando os corpos das meninas que se contorciam de dores,
mergulhadas numa poça de sangue. Bakhita recebeu no peito, no ventre e nos
braços 114 cortes de navalha que eram esfregados com sal para que as marcas
ficassem bem abertas. As jovens escravas ficaram jogadas sem tratamento e
nenhum cuidado, durante um mês.
No ano de 1882, o general turco
vendeu Bakhita ao agente consular Calisto Legnani que seria, para ela, seu anjo
bom. Na casa do cônsul, Bakhita conheceu a serenidade, o afeto e os momentos de
alegria, lembranças dos momentos felizes na casa dos pais.
A ITÁLIA
Em 1885 o Sr. Calisto é obrigado
a retornar à Itália; Bakhita pede para acompanhá-lo e obtêm consentimento. E
assim partiram em companhia de um amigo, o Sr. Augusto Michieli, a quem o
cônsul presentearia em Gênova com a jovem africana.
Chegando à Itália com seu 7º
“patrão”, o rico comerciante Michieli, foi para Vila Zianigo, na cidade de
Mirano (VE), Região do Veneto, onde Bakhita se tornou babá de Mimina, a
filhinha do casal. Apesar de serem pessoas boas e honestas, não eram
praticantes de religião. Como sempre, Deus tem seus caminhos e acabou colocando
no caminho de Bakhita, o administrador dos Michieli, Iluminato Chechini.
Iluminato era um homem muito
religioso e logo se preocupou com a formação religiosa de Bakhita; e ao dar um
crucifixo a ela, disse em seu coração: “Jesus, eu a confio a ti”.
Quando os Michieli tiveram de
voltar para Suakin, na África, por motivos de negócios, Bakhita e a pequena
Mimina ficaram aos cuidados das Irmãs Canossianas, em Veneza, e isto graças ao Sr.
Iluminato.
Bakhita iniciou o catecumenato
(catequese para receber os sacramentos iniciais), no Instituto das Irmãs. Ao
final de nove meses, a Sra. Maria Turina voltou à Itália para buscar sua filhinha
Mimina e aquela que considerava sua escrava, pois retornariam à África.
Naquele instante, Bakhita já toda
apaixonada por Jesus, prestes a receber os sacramentos, recusa-se a voltar para
a África, apesar do afeto que nutria pela família Michieli e principalmente
pela pequena. Sentia em seu coração um desejo inexplicável de abraçar a fé e
vivê-la para sempre.
Apesar dos apelos e até ameaças
da Sra. Michieli, nossa jovem africana não cedeu em sua mínima resolução.
Bakhita estava livre, na Itália não havia escravidão. Sua patroa retornou à
África com sua filha e Bakhita prosseguiu com sua catequese, feliz mesmo
sabendo que seria a última chance de rever seus familiares na África.
No dia 09 de janeiro de 1890,
Bakhita é batizada, crismada e recebe a 1° comunhão das mãos do Patriarca de
Veneza, Cardeal Agostini. No batismo recebe o nome de Josefina Margarida
Bakhita. Ela descreveria este dia como mais feliz de sua vida: sentir-se filha
de Deus era-lhe uma emoção inigualável, assim como receber Jesus na eucaristia
era o céu na Terra.
Bakhita nutria em seu coração o
sublime desejo de se tornar religiosa, uma Irmã Canossiana. Josefina Bakhita
foi aceita na congregação das Filhas da Caridade Canossianas, servas dos pobres
e, depois de três anos de noviciado, no dia 08 de dezembro de 1896 pronunciou
os votos de castidade, pobreza e obediência.
Depois da profissão religiosa,
nossa Irmã Bakhita foi transferida para a cidade de Schio, em outra obra da
Congregação, e lá permaneceu por 45 anos, onde passou a ser conhecida como a
“Madre Morena”.
Irmã Bakhita era atenciosa com
todos, sem distinção, desde as crianças do colégio, seus pais, sacerdotes, com
suas irmãs religiosas, etc., sempre levando a todos palavras de conforto,
consolo e amor incondicional a Deus Pai.
Em todas as funções que exerceu,
sempre colocou seu coração doce e sincero na Igreja, na Sacristia, na portaria
ou na cozinha, era tudo para todos, com seu sorriso de anjo.
Irmã Bakhita, em sua infância na
África, mesmo sem saber nada de Deus, pensava em seu coração inocente e puro,
quando olhava a lua e as estrelas: “Quem será o patrão de todas estas coisas?”.
Oh! Bakhita, Deus já estava te preparando para Ele!
Bakhita sonhava com a conversão
do povo africano e, no dia de sua profissão religiosa, rezou: “Ó Senhor, se eu
pudesse voar lá longe, entre a minha gente e proclamar a todos, em voz alta, a
tua bondade. Oh! Quantas almas eu poderia conquistar para ti! Entre os
primeiros, a minha mãe e o meu pai, os meus irmãos, a minha irmã ainda
escrava... E todos, todos os pobres negros da África. Faça, ó Jesus, que também
eles te conheçam e te amem!”.
No ano de 1947 Bakhita adoeceu,
já quase sem forças, em cadeira de rodas, passava horas em oração, em adoração
e contemplação. Era o dia 08 de fevereiro de 1947, nossa irmã Morena murmurava:
“Como estou contente! Nossa Senhora! Nossa Senhora!”.
Depois de algum tempo, em seus
últimos momentos, disse: “Vou-me devagarinho para a eternidade... Vou com duas
malas: uma contém os meus pecados; a outra, bem mais pesada, contém os méritos
infinitos de Jesus Cristo. Quando eu comparecer diante do Tribunal de Deus,
cobrirei a minha mala feia com os méritos de Nossa Senhora. Depois abrirei a
outra e apresentarei os méritos de Jesus Cristo. Direi ao Pai: “Agora julgai o
que vedes”. Estou segura de que não serei rejeitada! Então me voltarei para São
Pedro e lhe direi: ‘Pode fechar a porta porque eu fico!”
Às 20 horas, irmã Bakhita entrega
sua alma a Deus. O povo em grande multidão quer dar o último adeus à Madre
Morena, sua fama de santidade se espalhou rapidamente e todos recorriam ao seu
túmulo pedindo sua intercessão.
Em 17 de maio de 1992 foi
beatificada e, em 1º de outubro de 2000, foi elevada à honra dos altares,
declarada “Santa” pelo nosso Santo Padre, o Papa João Paulo II, sendo que o
milagre que a levou a ser reconhecida como Santa, aconteceu em Santos, no
Brasil.
Santa Bakhita deve sempre
inspirar sentimentos de confiança na Providência, doçura para com todos e alegria
em servir.
Paz e bem!
Amém.
Santa Josefina Bakhita |
Conheci a história de Santa Josefina Bakhita durante visita que realizei na Igreja Matriz Nossa Senhora do Patrocínio, na cidade de Jaú/SP.
marcioreiser.blogspot.com/2009/02/santa-josefina-bakhita.html